Dinamizando a minha carreira na ciência, sem desistir
Do “caminho para a extinção…” ao “caminho para lugar nenhum…” Estas são as frases que encontra na primeira e na última página da minha tese de doutoramento. Estudar para um doutoramento pode ser uma tarefa muito desafiante e exigente e, para mim, foi também um momento de extinção. Foi um momento de perceber que, independentemente da minha paixão pela ciência, a carreira de cientista não era para mim. Consequentemente, muitas questões preocupantes surgiram na minha cabeça - “O que é que eu quero fazer a seguir? O que é que sou realmente capaz de fazer?” Foi surpreendentemente difícil encontrar as respostas para essas perguntas. Passei a maior parte do meu tempo na academia, à procura de respostas para questões científicas. No entanto, lá estava eu, no caminho para lugar nenhum, incapaz de responder às minhas perguntas sobre o futuro.
Então, um dia, uma ideia veio-me à mente e “Eureka!” Tudo estava cristalino. Pensei “Por que não uso as habilidades adquiridas durante o meu doutoramento para responder às minhas perguntas?” Parecia familiar e não exigia nenhum equipamento especial. Tudo o que tive que fazer foi usar o processo científico. Eu tinha as minhas perguntas e uma lista de planos de carreira hipotéticos que precisava testar. O voluntariado surgiu como uma solução para testar as diferentes opções e foi assim que, alguns meses depois, dei por mim a dinamizar a minha carreira da investigação científica para a educação científica, trocando o laboratório pela sala de aula, a pipeta pelo giz. Nessa altura, eu vivia na Suíça, por isso contactei o Instituto Camões, uma organização do Ministério dos Negócios Estrangeiros português que promove a minha cultura e língua no estrangeiro, coordenando, entre outras iniciativas, um programa educativo para crianças que falam português como uma língua de herança. Depois de algumas discussões, pensamos que trazer metodologias de aprendizagem baseadas em investigação e experimentação para a sala de aula era algo que eu poderia fazer em colaboração com os professores de línguas, promovendo a aprendizagem integrada de ciências e línguas e usando isso como uma ferramenta para aumentar a motivação e as expectativas dos alunos para o futuro
Nove professores muito talentosos e motivados abraçaram o desafio e juntos concebemos e ministramos aulas divertidas e inovadoras de português, onde os alunos puderam explorar conceitos científicos básicos e aprender novo vocabulário. Uma das lições mais interessantes foi sobre poluição e mudanças climáticas. Realizámos uma experiência para mostrar que grandes quantidades de dióxido de carbono provocam um aumento de temperatura e utilizámos a história da carreira do cientista polar Dr. José Xavier no livro “Uma volta ao Mundo com cientistas portugueses” para compreender e discutir o impacto da mudanças climáticas nos organismos vivos. Para mim, este livro acabou por ser uma ferramenta indispensável para tentar uma carreira e construir uma ponte entre dois mundos: o da ciência e o do ensino de línguas. O que vi acontecer foi que os alunos não só compreenderam os conceitos e princípios do processo científico, como também mostraram mais motivação para aprender a sua língua de herança e uma maior aspiração para o futuro. Nas suas próprias palavras “adorei a aula e aprendi muitas coisas que não conhecia”, “percebi que a ciência é espetacular” e “gostaria de ser cientista”. Não há sentimento maior do que o de missão cumprida. E é assim que passei do caminho da extinção, para o caminho do lugar nenhum, e que cheguei agora ao caminho da aventura.
Sobre a autora: Marta Marialva
A Marta é doutorada em biologia evolutiva. O seu temperamento irrequieto e as suas paixões pela ciência e pela educação levaram-na ao que ela descreve como o capítulo do livro “sonhos que se tornam realidade”. Hoje, é fundadora e CEO da GINKGO-kids, uma organização sem fins lucrativos que utiliza atividades científicas práticas como ferramenta para promover o pensamento crítico nas mentes dos jovens. Adora o cheiro de pipocas, de caminhar entre as folhas caídas quando as estações mudam, e tudo o mais que se assemelhe ao sentimento de escalar a montanha mais alta.
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