top of page

Quatro anos a transformar mundos com o programa Cientista Regressa à Escola

  • Foto do escritor: Native Scientist
    Native Scientist
  • 18 de abr.
  • 5 min de leitura

Celebramos o percurso de três pessoas cientistas que ajudaram a construir pontes entre o passado e o futuro, pioneiros no acesso à ciência em Portugal

A Native Scientists nasceu com a missão de aproximar a ciência da sociedade através da língua, da cultura e, acima de tudo, das pessoas. Mas nenhuma missão ganha vida sem aqueles que a tornam possível. No caso do programa Cientista Regressa à Escola (CRE), três pioneiros, Margarida Palma, Paulo Marques e Raquel Branquinho, entraram em cena para fazer a diferença. Estes três cientistas regressaram várias vezes ao local onde começaram a sonhar, com o objetivo de despertar nas crianças a mesma curiosidade que, um dia, os levou a seguir o caminho da ciência e inspirá-las a perguntar: "Porque não eu?"


Quatro anos após o lançamento do programa CRE da Native, este período representou uma verdadeira transformação na forma como a ciência chega às crianças. O compromisso dos três pioneiros com o programa foi constante e verdadeiramente transformador. Graças ao seu apoio e dedicação, foi possível levar a ciência a centenas de crianças, dando passos concretos para fazer de Portugal o primeiro país onde todas as crianças de 10 anos conheceram um cientista da sua terra. Nestes quatro anos, Margarida, Paulo e Raquel foram muito mais do que facilitadores de conhecimento. São a prova de que a ciência é feita por pessoas reais, que também já se sentaram nas carteiras de uma sala de aula.


Margarida, que no início de abril voltou a Mértola, ao Agrupamento de Escolas de Mértola, pela quarta vez, vê estes regressos como uma oportunidade de retribuir à comunidade onde cresceu. Para ela, mostrar às crianças que alguém da terra se tornou cientista é uma forma de alargar horizontes, inspirá-las a sonhar mais alto e, assim, transformar o seu futuro. Para Margarida, a ciência é uma ferramenta poderosa de mudança, capaz de abrir portas, alterar percursos de vida e oferecer novas perspetivas e caminhos.


O percurso de Paulo demonstra que os sonhos de uma criança podem, de facto, ganhar forma. Quando era pequeno, desenhava naves espaciais quando lhe pediam árvores e corria para a rua à procura de foguetões no céu, porque no fundo já sentia que queria entender o mundo de forma diferente. Hoje, acredita que a ciência é uma das maiores conquistas da humanidade: uma forma de pensar mais racional, mais curiosa e mais humana. O seu desejo é simples, mas essencial: que as crianças nunca deixem de fazer perguntas. “Se estivermos sempre a questionar o que nos rodeia,” diz ele, “seremos pessoas melhores e mais interessadas” — e é precisamente essa semente de curiosidade que leva consigo sempre que regressa ao Centro Escolar de Valdonas, em Tomar.


Raquel, da vila de Armamar, no coração do Douro, percebeu há quatro anos que, graças ao programa CRE, podia voltar como cientista à escola onde começou o seu percurso, encurtando distâncias, inspirando outras crianças e retribuindo, através da ciência, o que um dia recebeu enquanto aluna. Para ela, este reencontro tem um significado profundo. “Quando um cientista regressa à sua escola, não regressa apenas às memórias — abre espaço para futuros que antes podiam parecer distantes,” afirma.




Margarida considera as iniciativas do CRE transformadoras — não só para as crianças e professores, mas também para os próprios cientistas. Destaca como o programa constrói pontes entre mundos que frequentemente permanecem afastados e sublinha que a ciência pode e deve ser acessível a todos. “Sinto que estou a contribuir para um futuro mais justo, onde todas as crianças têm acesso a oportunidades e podem imaginar um lugar para si na ciência,” partilha.


Durante o ano letivo 2023/2024, o programa criou 2.454 ligações entre crianças e cientistas — sendo que 1.138 delas conheceram alguém desta profissão pela primeira vez. Ao longo dos seus quatro anos de existência, assegurou que, em 16 municípios portugueses — 6 nos Açores, 1 na Madeira e 9 no continente — todos os alunos do 4.º ano tiveram a oportunidade de conhecer um cientista da sua terra antes de passarem para o 5.º ano, fortalecendo o elo entre ciência, território e identidade local.


A proposta educativa dá total liberdade aos cientistas para desenharem oficinas adaptadas ao público escolar, resultando numa grande diversidade de temas e abordagens. Em 2024, por exemplo, Paulo levou vários instrumentos musicais e convidou um músico para explorar com as crianças o conceito de ondas sonoras. Com a ajuda do tambor e de outros instrumentos de percussão, foi possível demonstrar visual e intuitivamente como as ondas sonoras se propagam no ar — dependendo, por exemplo, da força da batida e das vibrações geradas em cada som.




Apesar dos grandes momentos vividos ao longo das oficinas, para os três pioneiros, o momento mais emocionante continua a ser a primeira vez que regressaram à escola primária. Margarida recorda também uma oficina sobre observação microscópica de leveduras e uma experiência de fermentação, onde as crianças puderam amassar pão com o padeiro da aldeia, preparar uma sopa tradicional alentejana — a açorda — e lanchar pão quente com manteiga. Foi uma fusão perfeita entre ciência e identidade cultural que marcou profundamente todos os envolvidos.



Paulo destaca que, a cada regresso, os alunos se lembram de quem ele é e esperam ansiosamente por descobrir que nova ciência lhes vai trazer. Segundo Paulo, há sempre curiosidade à porta, como se as crianças estivessem à espera de uma nova história — e esse impacto é profundamente significativo, ao perceber como toca a vida dessas crianças, ano após ano.


Raquel acrescenta que o impacto vai além daquele momento de encontro: o legado do programa é visível nos percursos profissionais dos cientistas, na forma como pensam a educação e nas pontes construídas entre gerações e territórios. Para ela, valorizar o conhecimento que emerge destas experiências é essencial — gerando sentido de pertença e transformando o acesso ao conhecimento numa verdadeira igualdade de oportunidades.


Iniciativas como a Native são um passo importante para desconstruir estereótipos associados à profissão científica e reforçar a ideia de que a ciência é feita por pessoas reais, próximas, com histórias como as delas. Para Margarida, a participação no programa é uma das experiências mais gratificantes da sua carreira e, com grande entusiasmo, espera continuar a contribuir para esta missão nos próximos anos, vendo com clareza o potencial do programa para crescer e expandir-se, chegando a novas comunidades.


Com a mesma esperança no futuro, Raquel reforça essa visão e acredita que o programa pode consolidar-se ainda mais, alcançar novos lugares e continuar a inspirar uma nova geração de cientistas — e de cidadãos — mais críticos, mais curiosos e mais conscientes do seu papel no mundo.


Descubra aqui como pode apoiar esta missão!


O futuro do programa é fonte de inspiração e esperança para muitos. Ao longo destes quatro anos, muitas das crianças participantes no programa CRE tiveram a oportunidade de aprender, graças à Native, sobre microrganismos, energias renováveis, filosofia, linguística e até exploração espacial — e fizeram-no no seu próprio sotaque, ouvindo alguém que, tal como elas, cresceu naquela zona e frequentou a mesma escola. Centenas de oficinas únicas, como as dos nossos pioneiros, criadas por pessoas reais, que estão a semear um futuro com mais literacia científica, horizontes mais amplos e menos estereótipos.


Por fim, é justo afirmar que o programa Cientista Regressa à Escola representa, não só para os nossos pioneiros, mas para todos os cientistas apaixonados pelo projeto, uma celebração do futuro.


CATEGORIAS

bottom of page